martes, 8 de marzo de 2011

ONDJAKI (Angola, 1977) Poesía



Ondjaki (Luanda, Angola, 1977). Prosista y poeta, también escribe para niños. Co-realizó un documental sobre la ciudad de Luanda (Ojalá crezcan Pitangas – historias de Luanda”, 2006). Es miembro de la Unión de los Escritores Angolanos. Algunos libros suyos fueron traducidos al francés, español, italiano, alemán, inglés, serbio y sueco. [www.kazukuta.com/ondjaki]. Libros publicados: actu sanguíneu (poesía, 2000) Bom dia camaradas (novela, 2001) momentos de aqui (cuentos, 2001) o assobiador (novela, 2002) há prendisajens com o xão (poesía, 2002) Quantas Madrugadas Tem a Noite (novela, 2004) Ynari: a menina das cinco tranças (infantil, 2004) e se amanhão medo (cuentos, 2005) os da minha rua (historias, 2007) Avó Dezanove e o segredo do soviético (novela, 2008) O leão e o coelho saltitão (infantil, 2008) materiais para a confecção de um espanador de tristezas (poesía, 2009) o voo do Golfinho (infantil, 2009) dentro de mim faz Sul seguido de acto sanguíneo (poesía, 2010).


II
"estas são as horas"

estas são as horas em que o meu corpo tão presente quase desaparece em si, imensidão e transparência quieta, e os meus poros todos à força de serem tantos e tão entupidos se fecham enclausurados na película de não saberem respirar, o meu corpo duro sem dom de ser olhado assume – vinda de dentro – a condição de banal por não ter odor que o ocupe e assim estranho para não dizer inútil, assim sujo de remorso para não dizer dolorido, se eu olhar para o espelho vejo quase frase nenhuma
nem rosto, nem mãos
vejo talvez o meu corpo parado atravessando a galope o lodo amorfo das horas em que uma voz, a minha voz, acusa os ossos de serem meros estendais que o meu corpo imatério vai abraçando para fingir mover-se de um lugar oco para um lugar medonhamente vazio...





II

“estas son las horas”

estas son las horas en que mi cuerpo tan presente casi desaparece en sí, inmensidad y transparencia quieta, y mis poros todos a fuerza de ser tantos y tan tupidos se cierran enclaustrados en la película de no saber respirar, mi cuerpo duro sin el don de ser mirado asume –venida de dentro- la condición de banal por no tener olor que lo ocupe y así extraño para no decir inútil, así sucio de remordimiento para no decir dolorido, si yo miro al espejo
veo casi ninguna frase
ni rostro, ni manos
veo tal vez mi cuerpo parado atravesando a galope el lodo amorfo de las horas en que una voz, mi voz, acusa los huesos de ser simples extensiones que mi cuerpo inmaterial va abrazando para fingir moverse de un lugar hueco a un lugar terriblemente vacío…



Traducción de Gladys Mendía




No hay comentarios.:

Publicar un comentario