martes, 20 de mayo de 2014

WALDIR ARAÚJO: Poesía Actual de Guiné-Bissau



Waldir Araújo (Guiné-Bissau, 1971). Aos 14 anos viaja, pela primeira vez, para Portugal. Na bagagem leva o prémio obtido no concurso literário do Centro Cultural Português, em Bissau. É em Lisboa que prossegue os estudos secundários e académicos, frequenta o curso de Direito, e alimenta a paixão pelas palavras. Jornalista desde 1996, passa pela imprensa escrita, pertencendo aos quadros da revista Valor e colaborando com vários jornais e revistas. Desde 2001 que integra a redacção da RDP – África, uma Estação Radiofónica portuguesa que emite para África lusófona. A atividade literária, porém, não cessa. Publica, de forma regular, prosas e poemas em sites culturais portugueses e brasileiros. Em 2004 é-lhe atribuída a Bolsa de Criação Literária pelo Centro Nacional da Cultura, de Portugal, o que lhe proporciona uma investigação de vários meses junto da comunidade dos “Rabelados”, na Ilha de Santiago, Cabo Verde. Em 2008 publica Admirável Diamante Bruto e Outros Contos(Livro do Dia), é a primeira aventura do autor nos contos, depois da colaboração com os jornais literários brasileiros “Bagatelas” e “Rascunho”.






Murmúrios

Dizem que são murmúrios os ecos
que chegam do fundo deste mar
São palavras soltas aos ventos
frases melódicas para somar

Murmúrios que escondem feitiços
segredos e estórias por desmontar
São lamentos de cores mestiços
São sombras desenhadas ao luar

No fundo deste mar o silêncio fala
grita e clama como a força das marés
Não longe essa voz alguém embala
Não longe os ecos se escutam no convês

No fundo deste mar há tormentos
Há vontade de um silencio romper
Querer e vontade não são lamentos

No fundo, este mar esconde um poder!




Extracção

Entra, esse corpo está vago
Entra, e de mim estrai algo
Devagar, devora a essência nata
Que desta minha alma emana

Vem, veneno, corrompe-me
Se em silêncio, interrompe-me
Sem fala nem mesmo sinais.
Nem palavras mortas dos anais

Galopa, cavalo errante
É, Comédia Divina, Dante
é caos, e a orden espera
Que tanta lentidão, desespera!

Sussurra-me o verbo partir
Soletra-me a palavra mártir
E devagar, suga-me o tutano

Alimenta-te, ja não sou mundano!




Conficção

Em ti,
Quis sempre a outra

A tal que estava noutra

De ti,
Esperei sempre o impossível

Ou talvez mesmo o improvável!

Para nós
Quis sempre tudo

Mas para tal, nada dei
                              Sei!

E tu, silêncio absoluto
Deixas-me o maior luto

De ti,
Nem na partida um lamento

Há uma foto na lápide de cimento




Astro Ego

Astro,
Guia-me sem rotina
Dirige o meu querer
Alimenta-me a sede
         Até exeder!

Sol,
Queima-me até a alma
Faz renascer em mim a fé
Projecta-me o teu calor
                       Com ardour!

Estrela,
Indica-me o fio horizonte,
Com tua luz límpida e ímpia
Ilumina toda essa imensidão
                        Até à exaustão!

Lua,
Luzia os meus trilhos errantes
Livrai-me de nocturnes destinos
E mostrai-me a saida do labirinto,
                       No infinito!